sexta-feira, 28 de março de 2008

Ensaio sobre a Cola

Numa semana de provas nada mais apropriado de que tratar do tema central desta semana a famigerada: Cola!


A cola é uma daquelas práticas amplamente disseminadas nomeio escolar e acadêmico, e tida como prática de alunos vagabundos. Freqüentemente vemos os falsos moralistas se levantarem com uma discussão repleta sofismas de uma educação ideal, que até hoje não existe no Brasil. Contudo não podemos tratar como um tabu e tentarmos esconder de nós mesmos (classe estudantil) os motivos que levam a cola para dentro das faculdades, motivos sérios que contestam muitos conceitos tradicionais ainda aplicados à educação superior.
A grande questão que levantada é: A cola afeta a formação do aluno, mascarando sua incapacidade e produzindo um mau profissional, no caso um advogado, juiz ou promotor inadequado para o exercício de sua profissão?
No decorrer dos meus cincos anos de curso de Direito pude notar que seja colando ou não os alunos deste curso se formariam do mesmo jeito. Isto se deve ao fator: “pagou levou o canudo”. Certamente muitos destes que levam o canudo, saem destes cinco anos de curso sem saber nada ou quase nada porque afinal não estudaram mesmo.
Fico pensando nas causas da cola, nas táticas e truques e que tirei da minha experiência. numa visão generalizada, empírica baseada em fatos corriqueiros dos bancos academicos.
Estou plenamente convencido de que a cola aumenta na proporção do descrédito do aluno pela prova ou disciplina, ou a falta de qualidade do meio pedagogico empregado pelo docente . A cola justamente contesta o sistema de avaliação de provas e ensino da matéria. A prova é uma avaliação das capacidades individuais do aluno entregue aos seus próprios conhecimentos. A cola perverte essa avaliação, suprindo o aluno por outras fontes, ou melhor corrempendo o saber. É notório que todos nós um dia colamos numa prova, seja ela de qual esfera e meio de ensino for.
O aluno do curso de Direito deveria saber que a carreira de operador do direito é imensamente cheia dessas provas, dado isto deveria estudar mais, e buscar encadear a maior parte de matérias e conhecimento de outros ramos abrangentes sobre o tema. Um caso concreto não possui uma sombra de semelhança com uma avaliação de faculdade. O futuro operador do direito trabalha em vista de estudos constantes e debates, e aplicação de posições doutrinárias muitas vezes divergentes no seu campo de atuação como profissional. O estudante de Direito deve possuir uma disposição consulta a literatura, de diversos campos, assim estará livre para pensar em várias soluções, e sempre haverá revisões de seu trabalho final, no sentido de crescer em qualidade e saber técnico e humano.
Sua ferramenta é a capacidade de análise, não a memória apenas. Em contrapartida, o ambiente de uma prova é artificial: Ser cobrado em duas horas a fazer manipulações complexas e específicas de matérias extensas, enclausurado e incomunicável preso numa carteira nem sempre confortável sob a vigilância de alguém pronto a suspeitar de seus menores movimentos. E a correção posterior não é mais justa, pressupõe a pergunta: “O aluno possui capacidade de guardar (não importa se decorado e memorizado ou aprendido e assimilado) a resolução, e analise das questões das quais muitas ser~çao cobradas num estágio posterior ou exame da OAB totalizando um índice de desempenho de 0 á 10?”.
Essa contestação vem desde o estudo. “Estudar para a prova” é um grande “treino” um gás final que o atleta dá em seus treinos diários em face duma competição, fazendo uma analogia com o meio esportivo, é se elevar ao limite.
Certamente é forçar nos dias que antecedem o teste, o conhecimento retido no cérebro para demonstrá-lo na prova. Depois, se algo não for esquecido, maior o lucro e êxito. Isto chamamos de aprendizado.
A pressão de se sair bem pode deixar alguns alunos estupefados, mas serve como desafio para outros. Deste modo, a mecânica para fazer algum conhecimento penetrar na mente nesta fase é tido como eficaz, quando o contrário é o natural, no dia a dia de estudos aprimorar as teorias princípios e projeta-los na realidade, afinal Direito é algo abstrato aplicado a algo “concreto” .
Se permitem uma experiência minha, não me lembro de haver aprendido menos nas matérias sem prova (cuja avaliação era feita pela presença e trabalhos) do que nas exaustivas sessões de esgotamento e desestímulo que antecediam a grandes provas de disciplinas pesadíssimas. É nesse ponto que a cola passa ser uma assunto polêmico.
Porque invariavelmente quem cola já está tendo um juízo de valores sobre o modo de avaliação de uma prova. O aluno que cola tem certeza de que em nada seu desempenho profissional será afetado por fraudar sua performance numa prova. Pelo contrário, um exercício mal estudado ou um esquecimento por nervosismo pode causar uma reprovação numa disciplina chave efetivamente atrasar uma colação de grau, realmente provocando sérios prejuízos profissionais. Não é nobreza nenhuma perder um precioso ano de carreira por um falso pudor em não colar, mas hoje em dia isso é tido como coerente no meio acadêmico e social. O status de ser um Advogado para uns é um triunfo, mesmo que a profissão atualmente não seja vista com tanta nobreza como antes, e muitos tenham preconceito quanto aos Advogados de “porta de cadeia”.
Por outro lado, temos um sistema de avaliação baseado meramente em notas estimula o vale-tudo nas provas, nisso a cola é uma ferramenta eficaz. Um ciclo do qual a cola é conseqüência dupla: para quem não acredita que a avaliação funcione, a cola engana uma avaliação enganadora, é o chamado “ladrão que rouba ladrão”. Pelo contrário, para quem acredita que seus méritos serão unicamente avaliados pela nota, ir bem na prova adquire a verdadeira importância do curso, e entre ir bem numa prova e assimilar o conteúdo há uma distância imensa.
Freqüentemente ouço ‘o importante é passar, não aprender, temos tempo depois para isso ’. Não se aprende e se passa, se aprende a passar, se aprende a decorar, e finalmente se aprende a colar.
Podemos crer sem ironia que os alunos estão emburrecendo a cada geração e que os professores e mestres acadêmicos são os últimos guardiões do saber incompreendidos, por trinta ou quarenta pessoas que querem ser “Advogado” sem a mínima aptidão para isso.
Neste ponto cola justamente é uma tática para os alunos normais até poderem competir contra essa expectativa demasiadamente alta de cobrança, é o doping acadêmico.

A princípio, devemos distinguir dois tipos de cola. A primeira é a cola individual, o aluno arranja algum método pessoal de consulta a livros e apontamentos durante o teste quando não são permitidos. A segunda é quando um aluno passa a resposta a outro. Esta última verdadeiramente é uma instituição da amizade ou falsa amizade. Há um lado humano muito profundo na cola que não podemos subestimar por outro lado. A cola é solidariedade gratuita.
Os alunos que guardam as soluções apenas para si são tidos como egoístas, inimigos da turma toda etc etc...
Conclui-se que a cola torna-se um imenso laboratório onde se pode avaliar o caráter dos colegas para a futura vida profissional. Na necessidade percebe-se a índole de cada um e, como na universidade não há tantas situações adversas onde as pessoas podem se testar, são nas provas, trabalhos e seminários que darão elementos para nossa confiança... ou falta dela.
Há também a emoção de colar. Um sutil duelo de psicologia entre os alunos e o professor se passa a cada prova.
Os alunos estão em vantagem pelo seu grande número. Por outro lado, o professor é móvel e tem a autoridade final em caso de pegar alguém. Vários fatores conspiram contra os alunos: A visão insuficiente (quem cola sabendo que o professor está por trás?), o medo (que em nossa imaginação faz do professor onipresente para detectar nossos menores movimentos), os ruídos que denunciam a passagem de uma folha com as respostas ou até mesmo com toda matéria.
Há muitas regras clássicas, aluno que olha para o professor está colando, pois quem está fazendo a prova nem tem tempo de olhar em volta.
Por outro lado, a atenção humana só dura nos primeiros trinta minutos, então quem espera colar que tenha um pouco de paciência, até para que os colegas tenham tempo de resolver. Alunos que ficam sem fazer nada usualmente estão esperando cola chegar. É notório alunos fingindo resolver algo, até a cola ser passada, ficam lá folheando o código por exemplo, para não dar na cara demais.
O grande momento da cola é quando algum aluno distrai o professor com alguma questão sobre o enunciado. A atenção do professor é desviada para o chamariz e a cola do resto da sala fica impune. Este “ardil” é uma grande arma em uma turma capaz de ter certo nível de organização para combinar esta tática.
Por outro, e um professor realmente chato pode inibir bastante pelo terror. Usar o código, Vade Mecum e afins, sentar-se no fundo da sala, continuam sendo armas infalíveis. Contudo parece-me uma indignidade um professor universitário impedir em todas as provas do último ano o uso do código, afinal são veteranos. Usualmente os professores têm o bom senso de tomar providências apenas para os casos mais explícitos de cola. E tomar providências sempre é desgastante.
A cola individual também tem expressões de criatividade imensa na capacidade de escrever o máximo em espaços mínimos. Aquelas jaquetas displicentemente deixadas sobre as pernas... A cola tipo pergaminho, uma longa fitinha enrolada num palito, requer destreza na manipulação, mas maximiza a capacidade por espaço. E quem nunca ‘esqueceu’ uma apostila ou livro aberto debaixo da carteira a frente?
Para finalizar, a cola auxilia quem sabe. Não mascara incapacidades. O incapaz não consegue nem entender nada. Várias vezes me peguei com pontos de vista de doutrinadores, valores éticos, jurisprudencias dominantes do qual não tinha noção alguma e de que nada resolveria numa prova.
Não deixa de ser irônico concluir que a cola existe para o aluno comum, não para o ´mau aluno´. Conclusão que a cola é e sempre será polêmica, mais uma lenda da mitologia escolar.
A cola perde portanto a conotação de fraude e se torna aquela valiosa auxiliar da limitada capacidade de aprendizado de pessoas comuns. Contudo estou certo de que o tema ainda está longe de ser esgotado e quaisquer conclusões são parciais. Portanto é justo que haja preocupação com o debate sobre o tema, pois assim como o Direito -“ Nada está sedimentado” .
Deste modo fica a famigerada questão: É lícito colar?
Fica sem resposta. Não se sabe se vale ou se é lícito, mas o fato indiscutível é que se cola. E aqueles que realmente têm algum poder de mudança sobre os cursos deveriam analisar este dados e modificar algo, assim quem sabe a cola também muda para uma rotina de estudos.

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